Esta carta te dou a escrever para que a possas ler. Poucas são as palavras que tens que escrever. Quem conhece, sabe o que elas querem dizer, palavras que andam para a frente, para trás, para o lado e todas elas vêm ao centro e vão parar do mesmo lado.
Escrever é uma forma de dizer aos outros e mostrar o nosso pensamento e aquilo que passa através do tempo, são apenas palavras que se cruzam e se dão aos outros para que as possam ler e descrever com a mesma força e garra que eu vos estou a dar para que vós possais fazer.
São essas aquelas que tenho neste momento para lembrar e dar ao conhecimento daqueles que as querem agarrar com as mãos que tem e com a alma que as segure e que aos outros todos vós e outros que virão nunca elas serão esquecidas por vós, sempre estarão à frente dos olhos que as devoram, da serpente que as levam e da corrente que as adoram.
São estas as palavras que eu vos deixo aqui mencionadas nesta carta que escrevo que será por vós lembrada, fazendo passar aos outros que nem só a alvorada trás das suas.
Passei o que tinha a passar e deixo ficar, lembrais-vos então de mim que neste lugar eu tenho pedido e vós de mim vos tendes lembrado.
Eu sou aquele que fui por uns amado e por outros um mal-amado. Fernando Pessoa (20411)
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