sábado, 8 de maio de 2010

Jacinta - Eu vou à espera da Senhora

É Jacinta, sabes?

Eu venho falar, falar porque pediste para falar um bocadinho comigo, eu venho para te falar o que tenho para te contar, e é o que tu queres saber, o que nós vimos, e aquilo foi muito bonito, era pequena, saía de casa a cantar, a saltar, e as ovelhas guardar, sempre à espera que a Senhora viesse falar, o meu irmão, perguntava-me aonde vais sempre a correr para esse lugar?

Eu vou à espera da Senhora dizia eu, que me venha falar, anda, vamos correr e saltar, vamos ao mesmo lugar, é bonito e lá nós conseguimos ver aquelas coisas bonitas que todos nos perguntam, e nós nem sabemos explicar, era tudo para aquelas pessoas, eram milagres, para nós era apenas um lugar em que era bom lá estar.

Quando nos começaram a perguntar, a querer saber, nós falamos, ninguém queria entender, faziam as perguntas e davam as respostas que entendiam, juravam muito, nada daquilo que eles falavam era o que nós víamos, sofri, bateram muito, me atiraram de lado para lado, me pisaram a cara, olhos, mas eu continuava a falar o que via, apenas eu falava só o que via.

Era uma luz tão linda, tão brilhante e vinham. Essa luz nos iluminava e nos falavam dizendo: portem-se bem, sejam uns bons meninos e rezem para que o mundo seja melhor, quando os vossos dias chegar, nós vos vamos aí buscar para que caminhem connosco, para que possam depois como nós, orar por todos aqueles que vos querem mal.

Diziam tantas coisas, a principal eram apenas a luz que se transformava numa imagem brilhante, cheia de luz, uma Senhora linda, muito linda, assim foi a nossa vida tornada num desespero.

E quem era essa senhora?

Essa Senhora, perguntei com muito medo o nome, respondia: não tenhas medo menina, ninguém te vai fazer mal, só te venho ajudar, para que possas ajudar os outros e contar o que viste, conta só o que viste, mal passarás, mas não te deixes julgar pelas mentiras dos outros, não mintas e volta sempre que puderes, me encontrarás, vai haver um dia que nós vos iremos deixar para continuardes. Se vos perguntar o que viemos fazer, viemos apenas a este lugar, um lugar de oração onde nos podemos juntar e vos preparar, preparar para que possais deixar quando partirdes a semente que nós vos deixamos ficar, semeai, semeai, para quando ela nascer poder crescer, crescer para que unidos naqueles que foram escolhidos poderem comer, semeai, semeai.

E quem era a senhora Jacinta? Ela disse o nome?

Ela disse, era a Mãe de Jesus.

Era Jesus a imagem ou era Nossa Senhora?

Não, era a Mãe, só via dos ombros para cima, era só luz, não se conseguia ver muito bem, dava muitas voltas.

Nunca estava parada, era?

Era.

E agora explica-me, aquilo que eu li num livro, como foi o milagre do Sol, foi algum objecto que veio do exterior, com pessoas lá dentro ou não?

Não sei, rodava muito, ficavam muitas marcas, tudo brilhava, pareciam caminhos.

Mas era um objecto? Tipo prato ou que era?

Num sei, só via rodar, rodar e muita luz deixar e a voz falar, havia muita luz, parecia um sol, amarela, uma luz, só luz, ficava no alto quase à nossa beira, não chegava ao chão e nós queríamos ver, queríamos ver.

Estava alguém lá dentro? Nesse disco, nessa roda?

Era uma luz, uma luz, não conseguia ver mais, só via a cara da Senhora a falar, iluminava aquele lugar e andava muito rápido, muito rápido, era muito bonito, parava pouco tempo, ia, andava às voltas, mais volta, volta e subia, subia, depois desaparecia.

Depois marcava o lugar aonde nós devíamos estar para no outro dia vir falar, dizíamo-nos sempre a mesma coisa, só queria era estar connosco, que um dia me haviam de me levar e vir ter com eles ao lugar, depois de ter sofrido muito e mesmo muito, mal passar. Minha mãe também passou, e meu pai também, a minha família, prisioneiros sem poder falar aquilo que eu contava, a minha mãe triste ficava por não poder falar o que eu lhe contava, dizia-lhe sempre: cala-te mulher! Não digas essas coisas, porque a tua filha está a delirar vai-a tratar porque ela não sabe o que está a dizer, só são invenções, ela fala, fala, fala sem saber o que está a dizer, não repitas, não vais repetir e deixa-a falar.

E hoje querida irmã, já vistes a mesma imagem? Já vistes a Nossa Senhora do lugar de onde estás?

Neste onde eu estou, estamos muitos, aonde nos falam do bem, aonde nos ensinam como caminhar, aonde vejo os mesmos lugares por donde passei, onde vejo a Senhora, a Mãe de Deus que neste lugar.

A Mãe de Deus queres dizer a mãe de Jesus?

Sim, a Mãe de Jesus, mas sempre nos ensinaram em pequenos, que era a Mãe de Deus, quando dizia-mos Jesus, logo nos diziam Jesus, Deus, Deus é o Pai e Jesus é o Filho, mas Deus é o Pai de todos nós, com Ele estamos, somos os filhos Dele. Quando Ele mandou a Mãe de todos nós para falar connosco, para nos alimentar e continuaram a ser alimentados por eles, por eles somos como uma força que nos dão, chegamos até vós, muitas coisas que falam, nada é verdade, apenas serve e continua a servir para divertir e connosco, connosco por nós não nos poderem ganhar e aumentar cada vez mais aquilo que todos vêm, mas só vêm o que eles deixam ver.

Mas existe algum segredo em que eles saibam e que não querem que nós saibamos, alguma coisa que vocês os três disseram e eles não queiram que se saiba?

Sabem, sabem, a Lúcia e eu, os três, vimos, vimos crianças, muitas crianças como nós pequeninas a correr e a saltar, a brincar connosco, brincamos, brincamos, brincamos muito, por isso é que queríamos ir sempre àquele lugar, aonde lá podíamos todos brincar, depois partiam na luz que os iluminava, que rodava, rodava, rodava, rodava, e nós a ver partir, só nos deixavam luz, muita luz, subia, subia, e nós não víamos mais nada, corríamos para casa com medo, já não falávamos. A minha mãe acreditava, mas pedia-me: minha filha, não fales, guarda tudo dentro de ti e fecha como a mãe fecha o pão numa saca, não deixes palavra nenhuma sair que eles vêm cá novamente e vão-nos pedir para falar, e não nos vão acreditar, no que tu viste ninguém acredita, mas não chores, eu sei que é verdade, tu és a minha pequenina e sei que não precisas de me estar a mentir, porque essa é a verdade, só Ela te faz sorrir.

Esse disco que rodava, essa luz que rodava, fazia barulho quando se aproximava de ti?

Não me lembro.

Ta bem.

Eu tinha muito medo no inicio, tínhamos medo e fugíamos, só víamos ao longe, depois fomos perdendo o medo.

Depois também muitas pessoas viram, não foram só vocês.

Viram.

Também tiveram medo?

Viram, mas quando começou a rodar a rodar, começaram muitos a fugir, outros a gritar.

Mas não era o Sol conforme queriam dizer, que era o Sol que estava a mexer, o Sol não se pode mexer.

Era, era uma luz, uma luz.

E mudava de cor a luz?

Brilhava muito, só brilhava muito, brilhava.

Olha, mas a Senhora, eu sei que só respondes se te deixarem responder, deixou algum segredo conforme os homens aqui diziam que havia três segredos.

Não, só falava connosco, pedia para rezar e que os tempos iam mudar, era só o que Ela falava.

O que Ela pedia para rezar? Alguma oração em especial?

Pedia para falar com Ela, só pedia para falar e pedia para rezar o Pai nosso, mas nós não sabíamos rezar, então Ela nos deixou ficar, deixou-nos ficar no chão escrito o Pai nosso, para nós orarmos.

Mas se vocês não sabiam ler como é que foram ler o que pôs no chão?

Lúcia leu.

A Lúcia sabia ler?

Sabia.

Isso onde foi, nos Valinhos ou na capelinha?

Foi na capela.

(18410)

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