Cansados e um pouco
embriagados, nos encontrávamo-nos ouvindo a voz daquele que nos dirigia. Nada
podemos fazer a não ser sentir os que ao nosso lado estavam.
De pés amarrados e de
mãos acorrentadas e de olhos vendados, assim foi a nossa partida. Nunca
pensamos em tal coisa suceder, mas foi com a voz que nos mandava e nós tínhamos
que aceitar. A voz falava e tínhamos que obedecer.
Com palavrões eramos
dirigidos, e assim começou:
Para traz, todos pa
traz, seus cabrões de merda, mais pa traz, mergulhem, enrolem-se, levantem-se.
Um passo pa traz, merdosos, mais pa traz merdosos.
Assim foi durante algum
tempo sem vermo-nos uns aos outros, que os olhos estavam completamente
vendados, amarrados, só sentíamos areia nos pés. Mergulhar, enrolar, levantar,
saltar, e assim foi até sentirmos que algo de anormal atrás de nós, um só sopro
nos enrolou e a voz comentou, mais pa traz, mais pa traz, de fora estou eu e
quem manda aqui sou eu.
Deixamos de ouvir,
praticamente sentir. Partimos todos na mesma onda, nos abraçou e nos levou, ele
cá fora ficou. Quem mandava reinava, era ele e não podia deixar tal coisa nos
tivesse acontecido.
A voz era mais forte do
que nós, nos deixamos envolver por tudo aquilo que nos aconteceu. Saudades
deixamos ficar, nem rastos daquilo que deixamos nos pode ajudar, só ele e mais
os outros dos que lá se encontravam nos poderão ajudar a encontrar a solução da
nossa partida. Partimos em vão, com sofrimento nos encontramos, muito
precisamos ainda de falar, muito, muito, e com os nossos pais precisávamos de
viver ainda mais.
De nada serve tudo
aquilo que fizemos. Uma carreira se acaba dum modo mais turbulento. Mas podia
ter acontecido e eles ficam de falar, imunes. O ato em si foi de tal maldade,
não há justiça para todos aqueles que viram e nos deixaram partir. Continuamos
à espera de um dia poder ver as mesmas pessoas, mesmas pessoas, na mesma aflição em que nós nos encontramos.Partimos na esperança de um dia tudo isto possa terminar e nós possamos partir em paz e deixar a angustia para trás, e dizer aos meus pais que estamos sempre com eles e que orem por nós, é a única coisa que neste momento que poderão fazer e deixar tanto, deixar de todo o tempo de percorrer pelo sitio aonde nós partimos. De nada serve, apenas trás lembranças e recordações que nunca mais as poderão encontrar.
Somos aqueles que tão
falados neste momento, mas vocês vão ver, vai ser sol de pouca dura. Umas
lembradas e outras de momento esquecidas. Andreia.
Vim falar em nome de
todos e custou muito aqui chegar. A aflição é tanta, a água é tanta, não
conseguimos nos ajudar, ajudai-nos.
E
como é que se chama, o nome daquele que dava ordens?
Ele não esperava falar,
é tão conhecido, Gouveia era ele.
E
estavam mais colegas, vossos colegas lá a ver? Quantos eram?
Eram dois, mas quanto,
enquanto a situação começou a agravar eles correram pelo areal, deixaram-nos
ficar.
E
qual era o nome deles, desses dois.
Ai eu não posso falar,
a praxe não nos deixa falar.
Mas
liberta-te porque agora estás num mundo espiritual, não estás no mundo físico,
ninguém do mundo físico te vai fazer qualquer tipo de mal. Para te libertar diz
o nome de quem eram esses dois.
Eram convidados.
Qual
era o nome deles?
Não sei.
Mas
eram só dois? Então só estavam lá três?
Os outros ficaram para
trás.
Ma
tu podes dizer o nome desses dois, porque ao dizeres o nome desses dois, aquilo
que eu estou a registar tem mais credibilidade, porque não estás no mundo
físico. Eu estou aqui para orar por ti e para te ajudar. Tu reconheces a vós
desses dois convidados, eles também vos podiam ter ajudado.
Só gritavam, gritavam
enquanto caminhavam. Um era o F... . F… e F… , e mais não digo.
Vieram
da tua Faculdade também?
Eram.
Qual
o nome dos teus colegas que partiram contigo para o mundo espiritual? Eras tu,
e diz o nome dos outros, porque eles estão aí à tua beira, vocês estão todos
juntos, fala em nome deles.
Já falei.
O
nome?
Disse o meu.
E
agora diz o nome dos outros.
Os outros já não
interessa estar a falar.
Interessa,
para eu invocar o nome deles na oração que quero fazer de ajuda a todos vós,
para eu saber que todos vós estão presentes.
Da F… . A F…, não digo
mais. Os outros não estão dispostos a dar o nome.
Pois
sabes que nós, nos nossos jornais sabemos o nome deles todos.
Tá, nós sabemos isso.
Estudar, já estudamos demais.
Eu
também estudei muitos anos como sabeis.
Não precisam de estudar
mais.
Mas
conforme dissestes, vocês já estavam ligeiramente embriagados, já tinham bebido
muito álcool.
Algum, algum.
Então
só dissestes o teu nome e o nome de outra amiga, e ainda falta quantos? Vocês
eram quantos?
Seis.
Tás
a ver que ainda falta quatro.
Eu vou procurar daqui a
algum tempo voltar.
Então
querida irmã.
Eu só vim avisar que
estamos todos sem sofrimento e queremos orar.
Querida
irmã, aqui te encontras a dialogar de forma a eu ouvir, sabeis devido a este
trágico acidente de que existe duas vidas, a vida espiritual e a vida física.
Partisteis da vida física para a vida espiritual. Eu entendo, percebo e aceito
e peço a Deus pai todo poderoso, peço ao mestre Jesus, Jesus nazareno que vos
auxilie no vosso caminhar, que ele vos possa abrir as portas e os caminhos que
vos irão conduzir a uma vida melhor, por isso me disponho a orar e pedir por
vós, oremos. Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o vosso nome, venha
a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. O
pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofensas, assim como
nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não nos deixeis cair em tentação, mas
livrai-nos do mal.
Livrai-nos
Senhor de todo o mal. Senhor abençoai estes nossos seis irmãos, mas ajudai
também aquele que provocou a passagem do mundo físico para o mundo espiritual dos
seus colegas. Uma ação irrefletida, que esta possa servir de pedra de
lançamento de campanha contra estas atrocidades. Pai permite que estes nossos
irmãos até aqui vieram sentir o amparo e a oração de forma a se libertarem de
todo o mal que lhes fizeram de forma a que se sintam livres e possam caminhar.
Ide queridos irmãos, ide na paz do Senhor, ide e orai e pedi por aqueles que
tanto mal vos fizeram, ide e ajudai aqueles que tanto choram por vós.
(020214)
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