sábado, 23 de janeiro de 2010

Jacinta Marto - Éramos os três, muito amigos, pequenos, divertidos, e sempre prontos a ajudar

Éramos os três, muito amigos, pequenos, divertidos, e sempre prontos a ajudar, todos os dias, saíamos de casa, e levávamos a passear e alimentar todos aqueles animais, antes de sair juntava-nos os três e rezávamos. Aos saltos lá íamos todos nós, corríamos aqueles montes, uns por um lado, outros pelo outro, mas éramos felizes, sem medo, daquilo que podíamos encontrar, assim um dia, lá dos céus vimos uma luz a brilhar, aí sim, ficamos os três com muito medo, fugimos por aqueles montes, só chegamos a casa cheios de medo, não falávamos, prometemos uns aos outros, não abrir a nossa boca, e assim o fizemos, outro dia voltava a acontecer e assim foi, até que fomos obrigados a falar, não pensem vocês que a história que contam que é a verdadeira, fomos pequenos, se éramos felizes e brincalhões depois passamos a ser os prisioneiros daquele povo, meus pais também lhes custaram a acreditar e também tivemos que sofrer, passar mal, íamos, que tínhamos que levar os animais, mas sempre acompanhados, sempre feitos prisioneiros, chegou o sofrimento, era muito, muito, e foi melhor aquele que nos aconteceu, foi levados para o céu, aí a Mãe nos ajudou a partir, o sofrimento que nos causavam era muito, não podíamos falar, não podíamos andar sozinhos, era assim que queriam que nós crescêssemos naquele sofrimento, foi então, surgiu a partida, aí fomos felizes, mesmo todos aqueles que nos rodeavam, depois de partir, que nos fizeram sofrer, passaram eles, pequenos éramos, mas com muita fé, levaram-nos, ninguém se lembrava de nós, tudo foi uma ilusão, tudo esqueceram, e ficamos anos e anos e anos, a minha prima ficou, a Lúcia, o sofrimento que ela passou, sempre que lhe perguntavam ela dizia o que viu, nós pequeninos que éramos tiveram medo, que nós não nos calávamos, era tão belo, nós tudo contávamos, antes passaram e nos deixaram naquele lugar, reparem agora como está, à nossa custa, pela nossa fé, por tudo quanto acreditávamos, tudo fizeram, não por nós, porque nós somos a simplicidade, mas sim pela ganância, tudo fizeram, deixaram ficar uma amostra daquilo que era, era tão lindo e agora tudo é diferente, levaram-nos parte do resto que ficou, mas a alma o mais importante, não, essa não conseguem, pedem, pedem, pensam, por estar feito aquela grande obra naquele lugar, que ali que existe, a maior fé, é engano, ali pertence a maior seita, fazem isso só para que o mundo acredite neles e nós estamos prontos sempre a pedir por eles, para que tenham compaixão, piedade, por tanto mal que nos fizeram. Só acreditaram muitos anos, mas levou muitos anos, minha prima, ainda sofreu mais do que nós, ela ficou, de um lado para o outro, sempre a levaram, nunca a deixaram ficar muito tempo, porque aí começaram por lhe perguntar e ela estava proibida de falar, quando começava a ser muito conhecida voltavam a leva-la, passou a mocidade toda enclausurada sem poder falar, sem poder sair, apenas tinham por donde ela passou, só força da natureza, não havia mais nada, só a natureza, era ai que ela escrevia e falava, para a Mãe, que sempre lhe deu força, é sempre acompanhada, pelo alto, não podia falar com mais ninguém, assim foi ajudada para que tivesse fé, muita coragem, que soubesse sofrer, ela ficou para ensinar aos outros o que era sofrimento e humildade, passou já com meia-idade, para o lugar de onde ela partiu, foi mostrada ao mundo de que adiantou, se tudo o que ela falou lhe foi imposto pelo homem, toda aquela seita, que a rodeava só podia falar o que a deixavam, depois disso, foi levada e voltada a ser enclausurada, ela escrevia, escreveu muito, e tudo que ela escrevia escondia, para que não lhe encontrassem o diário, era a única coisa que ela tinha e com quem ela podia falar, algumas visitas ela tinha, mas sempre vigiada, mas ela sempre foi muito ajudada, e só respondia mediante aquilo que podia, com um sorriso sempre nos lábios, para todos que a iam visitar, só levavam lá quem os grandes senhores deixavam, nunca lá deixaram entrar quem ela tanto gostava de ajudar, nunca acreditaram nela, aquilo que ela falava, que tinha visto e continuava a ver, chegou o momento em que pensaram que ela não estava bem, médicos a visitaram sem ela poder falar, porque sempre foi vigiada, e agora, partiu com nós partimos, poderá acontecer perante o mundo, depois da morte, ela seja mais bem tratada do que nós, para quê tanta hipocrisia, quando nós podíamos falar, não nos deixaram, agora ninguém nos pode proibir de contar, de falar, de sorrir, de voltar a ser aquilo que éramos, e ter pena daqueles, fingem que acreditam e tudo fazem agora para que os outros acreditem.


A história é verdadeira, da nossa vida, foi curta, mas foi tão bela, em oração continuamos, porque nunca desistimos de orar, porque aquilo que fomos, continuamos a ser, a força que tínhamos, continuamos a ter, o bem que queríamos, continuamos a dar, a alegria que sentíamos, continuamos a espalhar, o amor que temos, continuamos a ensinar, é a fé que Deus nos deu, continuamos a dar, ensinar aos outros, aquilo que fomos, continuamos a ser, e a paz continua e o amor a reinar por todos aqueles que acreditam e continuem a orar, orem pelos que precisam, por aqueles que vós pensais que não precisam, porque todos nós, de uma forma ou de outra, todos precisamos, a luz brilha para todos, e nós somos, a força, a fé e a salvação, de todos aqueles que acreditam, e vamos orar, por todos aqueles, que ainda lhes custam a creditar.

[…] Não foi a imagem, foi luz e voz, a voz e a luz tão forte, tão forte, e que nos falou, sempre que vinha ter connosco, só nós é que a ouvíamos, só nós é que a sentíamos, todas as pessoas que nos rodeavam não queriam acreditar, só os meus pais passado muito tempo, muito tempo, é que começaram a ver em nós a diferença, nós só queríamos estar naquele lugar que ela mandava, só ali é que nós sentíamos bem.

[…] Era luz, que se transformava, falava, marcava uma hora, para que nós voltássemos.

[…] Era uma beleza, era tão belo, tão belo.

[…] Nós estamos com os dois, nunca nos separamos.

[…] O Francisco e Jacinta, mas Lúcia também ouve e autorizou a que falasse um bocadinho da vida dela.

[…] Sabíamos, mas ela tudo o que sabe, não está autorizada a contar, há uma semana, que andamos a falar com ela, mais nuns dias do que noutros, tivemos a prepara-la, ela, também não queria acreditar, nunca pensou que nós estivéssemos a falar, tinha medo, e não falava, hoje lhe foi dada a força, coragem, e lhe dissemos que ela podia falar, contar a nossa história, é verdadeira, mas que a podem ainda ajudar, não só a ela mas a todos, saibam, e que a possam nela acreditar, foi-lhe dado o momento, nela poder falar, passou uma semana, sempre a perguntar, e assim lhe foi dada a coragem, força interior para ela poder falar, nem tudo o que contam foi a verdade.

[…] Tudo o que nós vimos foi verdadeiro, o que nos fizeram, por tudo o que vimos e contamos só nos deram sofrimento, sofremos muito, muito, ficamos doentes, porque aquele povo, aquela seita que nos rodeava, sofrimento que nos causaram, foi aí, que a luz chegou e nos levou, ficou só Lúcia, conseguiu com a ajuda divina, ter a força para poder, pedir por nós, pelos outros.

[…] A luz.

[…] Não, tudo que falou, vós estais a passar por tudo isso, quem acredita, quem ora, será sempre mais ajudado, não sofrerá, tanto quanto os outros.

[…] A imagem que nós vimos, só nós é que a podemos ver, nós só dissemos o que vimos, mais ninguém viu, apenas nós, aquilo que falam, o que inventam, a imagem tinha falado, só nós é que víamos, ninguém, ninguém mais de todos aqueles que nos rodeavam conseguiam ver.

[…] Era, só lhe víamos a cara, o resto, tudo era luz.

[…] Era a Mãe, Mãe de Deus.

[…] Era a Senhora, a Mãe de todos nós, foi assim, que ela falou.

[…] Sim era a Mãe, Mãe, foi que nos ensinou a orar e a pedir, todos, estes por aqueles, que nos causaram tanto mal, ela nos ensinou a orar.

[…] Jacinta.

[…] Conheço, mas nunca pode falar, nem lhe foi dada, sempre teve de ficar calada, como nós, foi isso que nos fizeram, nós fomos levadas, ela ficou, mas sofreu, nós sofremos. (2008)

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